quarta-feira, 11 de maio de 2011

Produção em Cadeia é um documentário realizado por três amigos como TCC para o curso de jornalismo, na PUC de São Paulo. João Mello, Maurício Kenji e Victor Marinho, pesquisaram, gravaram entrevistas e colocaram em debate um assunto bem atual e que por ventura, essa semana voltou a ser a bola da vez: os direitos autorais. "Quem é o dono da ideia? Até onde a internet subverte o sistema? Fazer música é crime? Ouvir música é crime? Cobrar é crime? A música é tangível ou intangível? A música é um produto? O que é ilícito? Por que é ilícito? Pra quem é ilícito? MP3 dá câncer na orelha? Uma música é feita pra que? Daonde veio a ideia? Pra onde vai a ideia? Até onde ela tem permissão pra ir? Existe propriedade intelectual? O que motiva as leis? O que motiva os crimes? Quais contradições são eternas? O direito autoral protege o artista? Protege de quem? Quais contradições acabarão nos próximos 100 anos? Quem copia de quem? Quem cola de quem? A criatividade tem preço? A criatividade tem começo?" Todas essas perguntas que cansamos de nos fazer, estão na parte de tras do DVD. A convite deles, eu gravei uma entrevista falando um pouco sobre isso (pois bem sabem, sou do HominisCanidae ao lado do Zeke). Agora que o material saiu, resolvi fazer duas perguntas simples para cada um deles e olha o que veio:

1-) Por que escolheram o tema "Direitos Autorais"?

João Mello: Nós 3 gostamos bastante de música e fazemos parte de uma geração que viveu ainda os últimos suspiros de uma indústria fonográfica forte. No começo da adolescência, nossa formação musical foi se criando ainda pela compra de cds, mas logo depois programas como o Kazaa apareceram. Isso mudou muito e é óbvio que não foi só pra gente, foi pra todo mundo com uma idade perto da nossa, que nasceu ali no final dos anos 80 ou comecinho dos 90. Mesmo assim, o fato de baixar músicas virou uma coisa natural, ninguém para pra se ligar o quão revolucionário e subversivo ele é. E num tem que reparar o tempo todo mesmo, porque já virou natural. Na verdade, isso sempre foi natural: as pessoas sempre se esforçaram pra mostrar uma música legal pra um amigo, essa troca sempre rolou. O que a internet fez foi facilitar e potencializar essa troca, criando um acervo musical infinito e livre para todos. A ideia do filme foi reunir depoimentos de pessoas que viveram tanto a fase analógica quanto as que vivem a fase digital do acesso à música. No fundo, tentamos mostrar que esse momento que a gente está vivendo não tem precedentes, é uma anarquização total...o que não deixa de ser uma coisa boa.

Maurício Kenji: Pois além de ser um tema atual e de interesse de todos do grupo é um assunto que envolve diretamente o ambiente cultural, no que diz respeito à sua produção e disseminação, sendo que os valores e os princípios construídos pela industria fonográfica estão obsoletos e em franca decadência chegando a um ponto em que, ao invés de promover a cultura, freia este processo de "evolução" não dando margem àqueles que não se submetem ao sistema construído para alcançar o sucesso. A mercantilização da música como um produto, passou a marquiar o conceito de que música também é cultura.

Victor Marinho: Acho que o motivo principal para escolher esse tema é o fato de fazer parte dessa geração que desde cedo viveu a internet. Eu sempre baixei música, desde a época do Napster e do Áudio Galaxy, e com certeza isso moldou minha formação cultural. Na verdade, isso foi uma coisa muito natural na minha vida e eu nunca tinha parado para pensar nisso antes da faculdade. Então me deparei com a possibilidade de fazer um documentário sobre algo que eu vivi e está em evidencia, mas é pouco discutido.

Durante a universidade, também discutíamos muito a questão da democratização da comunicação e da cultura e, de certa maneira, o nosso tema engloba todo esse debate de uma forma bem pontual e interessante.

Produção em Cadeia por Produção em Cadeia

2-) O que vocês acham do posicionamento da nova ministra em relação aos direitos autorais?

João Mello: Eu acho, antes de tudo, uma pena. O Ministério da Cultura sempre ignorou a questão dos direitos autorais, nunca quis escutar a população e nem os artistas. Se escutava algum artista, era um representante dos 2% que geravam lucro pro ECAD. E eram esses mesmo 2% que iam ter maior apoio e incentivo do MinC, então a relação do Ministério da Cultura com a cultura brasileira sempre se deu com essa parcela ridícula de artistas (quase sempre igualmente ridículos). Daí chega o Gil e, em um de seus primeiros discursos, fala: eu sou o ministro hacker. A partir daí, tudo mudou. O Ministério passou a priorizar o lance do direito autoral, tendo como base uma coisa muito simples: a legislação não acompanhou o ritmo da tecnologia. Promoveu uma série de debates e outras inicaitvas que eram abertas para que o povo participasse da formação de uma nova política pública...isso por si só já é inédito, muito inovador. E apesar de todo o esforço do MinC de reformar a lei de forma plural, ouvindo todos os lados, ficava claro que as pessoas que lá trabalhavam tinham uma visão muito moderna da coisa, muito a favor de baixar músicas, muito a favor de olhar pra questão da música hoje em dia sem porra de nostalgia nenhuma, abraçando o futuro mesmo, até porque é um caso claro de uma coisa que hoje em dia é muito melhor que no passado: o acesso a qualquer bem cultural.


Como o partido se manteve no poder, achei que essa batalha ia continuar, porque de fato estava rumando para um resultado interessante. Não acredito na política, mas por incrível que pareça ela estava fazendo algo que poderia de fato contribuir para nossas vidas e esse algo não era motivado por poder ou por grana. Isso é muito raro no mundo. Daí vem essa mulher e faz o contrário, começa a agira com interesses eminentemente ligados à grana e ao poder. Ela já tem uma cara suspeita. Tá na cara que ela é uma burocrata que nunca parou pra pensar sobre música e internet e, se parou, foi pra chegar a conclusão que download de música é assalto é a mesma coisa. Então, na verdade, ela é uma ignorante, porque qualquer pessoa séria que se propõe a estudar o assunto seriamente, vai acabar rindo dessa posição reacionária. O grande retrocesso dessa ministra vai ser impedir que o Ministério da Cultura brasileira continue a ser uma exemplo de vanguarda para o mundo. Com isso, o MinC se distancia do povo e, pior, se distancia por completo da realidade, podendo voltar a ser o braço estatal do ECAD... e isso é, antes de mais nada, uma cagada.

Maurício Kenji: Lamentável. Pois o tema é de grande complexidade e há o temor de que tudo que foi alcançado nos debates ao longo destes anos seja descartado. Parece ser um duro golpe no estômago para aqueles que levantam a bandeira do conceito de cultura livre a nomeação de Marcia Regina Barbosa, ligada à representante do ECAD, para o cargo da DDI.

Victor Marinho: As políticas da Ana de Hollanda não me surpreendem. Apesar de toda essa bandeira popular do governo Dilma, em qualquer sinal de mudança e em qualquer ameaça a determinado modelo de negócio, o governo mostra que está mais próximo dos poderosos do que do povo. E tudo é tratado de maneira precipitada, obscura e sem discussão nenhuma com as pessoas interessadas no assunto.

É triste porque você vê o trabalho de algumas pessoas ser totalmente ignorado, mas é bom porque mostra a contradição e os reais interesses de determinado governo.

Para fazer o download do documentário (que foi liberado pelos três) clique aqui

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